Sobre tempo: Dárida Rodrigues

Sobre tempo: Dárida Rodrigues

Para dar continuidade à nossa discussão sobre o tempo, conversamos com a artista Dárida Rodrigues, originalmente de São Paulo. A sua investigação materializa-se através de instalações audiovisuais, caminhadas com áudio, performances e site specifics como uma tentativa de investigar a arte relacional e a própria consciência humana. Dárida partilhou conosco a experiência de criar no período de isolamento, o papel da abundância do tempo na prática artística e a sua relação pessoal com o passagem do tempo.

Gostaria de começar falando sobre a intencionalidade por trás do seu trabalho em “alongar o tempo” para uma observação mais atenta dos nossos arredores e daquilo que vive dentro de nós também. De onde surgiu essa necessidade de unir a prática artística com métodos meditativos?

D: Bom, sinto que o tempo, ou melhor, o passar do tempo é das únicas constantes na nossa experiência, enquanto tudo muda. E a possibilidade de que o tempo “pare, se alongue ou voe” a partir da nossa percepção sobre cada experiência particular, sempre me interessou muito. Acho que esse fenômeno de mudança de percepção e sobretudo, a relação que se estabelece entre isso e os nossos estados mentais e emocionais, é também, das coisas que sempre me conectaram às práticas meditativas há um bom tempo. 

Então acho que essa abertura de um espaço interno onde a temporalidade se desdobra em outras configurações possíveis e que simultaneamente, permite com que se possa habitar mais integralmente o momento presente, que eu explorei muito através da meditação, de esvaziar nem que seja por alguns segundos a mente, atravessa também o meu trabalho acho que de maneira anterior à uma intencionalidade. É realmente uma brecha que me atrai enquanto investigação e que me interessa explorar nesta transposição de territórios entre arte e vida, talvez porque, pelo menos para mim, estes campos do meditativo, ou do espiritual, se quisermos, é também o campo onde arte opera. Vem se tornando naturalmente parte do processo integrar ou até subverter métodos meditativos ao experimentar criar relações entre subjetividade, tempo e espaço.

O seu último trabalho “Vice-Versa” explora essa ideia de movimento dos afetos que interligam o dentro e o fora, a recepção e expressão de informações e imagens… E o trabalho também acabou ilustrando a passagem do tempo por meio da observação do fluxo de pessoas na rua e as interações com a obra em si. O que você colheu da experiência em criar o trabalho “Vice-Versa”? 

D: Ainda estou processando essa colheita…porque o trabalho desvelou muitas camadas que têm sido interessantes de observar. Mas posso dizer que esse impulso de experimentar uma inversão de ponto de vista, aproveitando essa relação entre o dentro e o fora que o espaço da montra e da rua proporciona, através do recurso do video projetado, permite que muitas outras relações se estabeleçam e se confrontem, como por exemplo a do tempo com o espaço, no espelho invertido que não reflete diretamente o observador, criado através do video e que chama bastante a nossa atenção pela possibilidade de vivenciar 2 ou mais temporalidades em simultâneo, como a do que se passava dentro, a do que se passava fora, no momento presente e a do que se passava no que se via em ação na vídeo perfomance/espelho projetado, que ainda trazia outras velocidades, repetições e intervenções e que mediava essas diversas relações entre sujeitos plantas, transeuntes do presente e da imagem. Sinto que vale explorar esse espaço temporal relacional ainda mais.

O seu outro trabalho [Des]segredo propôs uma trajetória de um trajeto mapeado para percorrer a obra em um determinado espaço. Como que trabalhos site-specific manipulam a nossa percepção do tempo?

D: No processo de criação de [Des]segredo, que era também um projeto de mestrado, a audio-wall À Luz, desenvolvida para um percurso específico no edifico das Belas Artes de Lisboa, que é uma construção muito antiga, de materialidade histórica, onde se sente o peso não só material mas temporal também; foi interessante explorar a proposição de uma deriva interior (ou meditativa) através do deslocamento no espaço, como um processo de aproximação a um lugar comum de relação um para um, em torno da ideia de Segredo, que era proposta no final. 

A partir dessa paisagem sonora trazida pelas instruções por voz, vivenciada e recriada no presente ao se caminhar pelo espaço e também através das temporalidades subjetivas que acontecem no momento, para cada participante, pude observar também como uma viagem espaço/temporal feita especificamente para existir num espaço em âmbito artístico, pode não só influenciar (ou manipular) a nossa percepção do tempo mas também ser influenciada por ele. Isso porque sinto que as obras site-specific vinculam-se intrinsicamente ao espaço, ao mesmo tempo em que se abrem, através desta possibilidade da manifestação de um espaço temporal subvertido, para intervenções e transformações do mesmo e neste sentido, são muito interessantes nesta exploração do universo interior e relacional em diálogo com a temporalidade.

A obra [In]surgir, que foi criada durante a quarentena, é outro trabalho seu de imersão auditiva. Um dos nossos questionamentos dentro do tema tempo é investigar a forma que a falta ou abundância de tempo afeta os processos de criação. Como foi criar esse trabalho durante um período de isolamento?

D: Foi no mínimo um bom exercício de interrogação, tanto que no começo eu chamava a série [In]Surgir de “Exercícios para “Tocar o devir, Abraçar a dor e Mastigar o real”.

Eu, que havia decidido meio que transgredir no campo da arte, alguns métodos meditativos, ao propor o deslocamento, a distração, a uma poética que me implicava pessoalmente nos textos e nos áudios, de repente sentia que a vida pedia antes de mais nada, digerir, com uma inédita limitação de espaço e movimento, uma realidade distópica e incerta, onde estes métodos de meditação “convencionais”, apesar de muito úteis fisiologicamente, não pareciam fazer mais tanto sentido pra mim naquele momento. Era realmente uma necessidade integra-las com o processo de criação. Então passei a escrever essas audio instruções para trabalhar com as possibilidades de uma abstração meditativa e sensorial a partir desta condição de confinamento e da súbita pseudo-abundância de tempo e impossibilidade de movimento, com todas as emoções e interrogações que surgiam e insurgiam internamente.

É possível para artistas usufruírem da natureza esotérica do processo de criação num mundo extremamente acelerado como o que vivemos hoje?

D: Sim, difícil pensar o que não é possível em termos de arte. Mas pessoalmente, sinto que é essencial se deixar existir na vida e na arte da maneira mais integral que é possível para cada um, para não sermos totalmente engolidas ou capturadas pela vida extremante capitalizada e midiatizada, que caracteriza o “humanismo” instituído, falho, mas acelerado de hoje.  E acho que esse universo esotérico, espiritual ou transpessoal é bem mais amplo e presente na nossa experiência subjetiva, do que muitas vezes imaginamos ou intelectualizamos, especialmente porque operamos quase sempre dentro do pensamento hegêmonico ocidental, onde temos dificuldade em abrir espaço para o que não pode ser configurado por esses parâmetros e assim não nos conectamos com as possibilidades de intuir e criar rituais ou feitiços próprios naturais mesmo e não “sobrenaturais”, para explorar nosso universo interior e inventar outras realidades. O campo artístico é terreno bem fértil para essa exploração, na minha opinião. Muito do que encaramos como parte de uma natureza esotérica e que não se relaciona com o pensamento racional que conhecemos, pode ser prática comum para algumas outras comunidades e espécies, por exemplo. Se enxergarmos ou fizermos arte apenas a partir do ponto de vista da nossa (muitas vezes limitada) cultura vamos sempre deixar de fora experiências e vivências que talvez sejam fundamentais para existir e quem sabe, florescer de fato e politicamente no presente. Não vejo espaço/tempo mais receptivo para isso do que a arte.

Hilma af Klint

Hilma af Klint

Para iniciar nossa discussão em torno do tema TEMPO, hoje trazemos o trabalho da artista Hilma af Klint, que criou mais de 150 pinturas entre os anos de 1906 e 1915. Essas pinturas foram chamadas de “As Pinturas do Templo” e consistem principalmente em imagens abstratas e formas orgânicas inspiradas pela geometria da natureza. O trabalho de Klint apresenta um mundo além daquele que conhecemos; que transcende seu tempo atual e desafia a forma como observamos a realidade.

Klint imaginou um templo que abrigaria as pinturas e o descreveu em um de seus muitos diários como um “edifício redondo, onde os visitantes subiriam por uma escada em espiral em uma jornada espiritual”. A descrição de Hilma é extraordinária, pois ela descreve o Museu Solomon R. Guggenheim na cidade de Nova York, que seria construído apenas décadas depois e também seria o museu anfitrião de sua exposição individual “Pinturas para o Futuro” em 2018. Frank Lloyd Wright, o arquiteto do Guggenheim , criou um lugar não tradicional para a arte não- objetiva e tanto ele quanto Klint compartilhavam uma afinidade com as formas orgânicas e o simbolismo espiritual em torno da espiral. Tanto a visão arquitetônica de Wright quanto as pinturas de Klint foram uma ruptura com a tradição, oferecendo uma nova abordagem à expressão criativa.

O misticismo de Klint envolve muitos interesses em ocultismo, teosofia, espiritualismo e conceitos científicos. As pinturas para o templo serviram como um testamento para os espíritos superiores e o artista passou quase uma década trabalhando nelas. Suas pinturas abstratas mudaram o curso da história da arte e colocaram a questão: qual é o papel do tempo no processo esotérico de fazer arte?

Como artistas podem manipular a passagem do tempo por meio de suas práticas?

Tempo

Tempo

Qual é o papel da temporalidade no processo artístico?

O conceito de tempo tem estado no centro da expressão artística, desde os traços rápidos dos impressionistas até a observação do tempo em relação ao espaço de Bruce Nauman; o tempo serviu tanto como uma catapulta para o surgimento de novos pontos de vista quanto como tema para investigações mais profundas. A forma como os artistas entendem o tempo no contexto de sua prática sempre refletiu a dinâmica entre o artista e as demandas externas do mundo, seja por meio da contemplação ou da intervenção.

Como vivemos em um mundo em constante mudança, extremamente acelerado e nossas experiências sociais são mediadas por demandas frenéticas, como a falta ou abundância de tempo afeta a prática artística?

Alguns pontos principais a serem considerados:

A temporalidade no processo de produzir arte

Em primeiro lugar, é importante pensar sobre as maneiras pelas quais o tempo se inseriu na prática artística e como os artistas tentam retratar a natureza abstrata e invisível do tempo por meio das artes visuais. Em segundo lugar, o ato de contemplar uma obra de arte também é intercambiável, pois a própria obra muda ao longo do tempo, ganhando novas percepções e significados. Nagel e Wood (2010) argumentaram que as obras de arte sempre “habitam temporalidades plurais”, já que uma obra de arte é feita por alguém em um determinado momento, mas se refere a ideias ou eventos que muitas vezes precederam aquele momento, ou apontam para um futuro imaginado. (Serafini e Bancos).

A prática artística orientada pelo portfólio

Enquanto os artistas trabalham em condições cada vez mais limitadas de tempo, tendo que ser autossuficientes e produzir trabalhos para formatos e plataformas específicos (um portfólio, um site ou mídia social), sobra espaço para surpresas e experimentações lentas?

À medida que nossos ambientes digitais se tornam mais complexos, a necessidade de produzir trabalhos que sejam relevantes para os tempos atuais parece ser a única maneira “correta” de fazer arte. Mas se os tópicos relevantes mudam constantemente e é impossível acompanhar sua velocidade, sobra algum tempo para permitir que as ideias se desenvolvam organicamente? Como os artistas podem usufruir da natureza esotérica – e muitas vezes lenta – do processo criativo no mundo de hoje?

Escassez de tempo ao observar arte

A falta de tempo quando se trata de artes visuais gera um impacto não só no criador, mas também no espectador. Quanto ao espectador, ainda temos tempo suficiente para exercícios de contemplação? Qual é o tempo ideal para a experiência estética?

Fique ligado nas próximas semanas enquanto investigamos essas questões e outras mais relacionadas ao tempo e à arte.

Fontes:

Nagel, Alexander & Wood, Christopher (2010): Anachronic Renaissance, New York: Zone Books.

Serafini, Paula & Banks, Mark (2020): Living Precarious Lives, Time and Temporality in Visual Arts Careers

Exposição “Entorno”: Osias André

Exposição “Entorno”: Osias André

DESLOCAMENTO

Osias André, de Moçambique, imigrou para Portugal há 4 anos onde ganhou 3 bolsas da escola de arte independente Ar.Co, instituição dedicada à experimentação e formação artística. Osias começou a pintar aos 8 anos e iniciou a sua carreira artística através da ilustração gráfica, produzindo uma coleção de livros. Para ele a pintura exige uma digestão mais lenta e indireta. Nos trabalhos em pintura aqui exibidos, nota-se uma busca identitária, atrelada às suas origens africanas, através de uma prática tradicional européia de ateliê. O resultado são pinturas impactantes, em que cores, formas e conteúdos atuam em equilíbrio, apropriando-se da prática pictórica ocidental para trazer à tona elementos decorrentes da resistência cultural Africana perante aos séculos da hegemonia eurocentrista. Osias vive e trabalha em Lisboa.

  • O deslocamento de composições pictóricas clássicas centradas no euro para novos ambientes;
  • Manipulação de cores e formas;
  • Fortalecimento de sua própria identidade, distanciando-se de casa;
  • Equilíbrio entre as sensibilidades da diáspora Africana e a preocupação européia com a teoria e a razão.
Exposição “Entorno”: Eduardo Dias

Exposição “Entorno”: Eduardo Dias

IMPERMANÊNCIA

Eduardo Dias é biólogo de São Paulo, Brasil, e atualmente trabalha na Universidade Presbiteriana Mackenzie como Técnico Laboratorista do Núcleo de Pesquisa em Biociências. Sua atuação o leva a biomas brasileiros como o Pantanal, o Cerrado, a Mata Atlântica, entre muitos outros destinos, e a fotografia desempenha um papel importante durante suas viagens. Ele a utiliza como uma ferramenta para dar vazão à sua imaginação, mas também como um meio para criar um repertório didático em que seu conhecimento sobre biologia une-se com a arte. Seu objetivo é mostrar a beleza da natureza por meio de imagens sensíveis, exaltando suas estruturas orgânicas e singularidades. Para Eduardo, essa união de forças entre a arte e a biologia é uma forma de nos alertar sobre o meio ambiente que habitamos e tudo aquilo que vive em volta de nós.

  • Capturar paisagens e espécies como um alerta sobre a ameaça iminente contra a natureza;
  • Desmistificar as ideias sobre o mundo natural enaltecendo as belezas da sua realidade;
  • Reduzir a distância entre pessoas e seu meio ambiente.

 

Exposição “Entorno”: Gabriela Albuquerque

Exposição “Entorno”: Gabriela Albuquerque

IMPERMANÊNCIA

Gabriela Albuquerque é uma artista brasileira que vive e trabalha em Cascais. Sua pesquisa atual foca nas paisagens e nos desdobramentos recorrentes para além da tradição histórica acadêmica desse gênero. A repetição quase compulsiva de imagens procura exaltar o paradoxo entre permanência e impermanência de nossos entornos, daquilo que nos é familiar, mas também efêmero. A opção por pinturas a óleo, que seguem uma tradição secular, questiona a continuidade de certas práticas que resistem apesar das inovações constantes. Mais do que registros de momentos e lugares, são também uma tentativa – talvez frustrada – de tornar permanente aquilo que é efêmero. Os trabalhos aqui exibidos reforçam a ideia de que nós somos transitórios, e não os espaços que ocupamos.

  • As paisagens nos observam, não o contrário;
  • Paisagens naturais servindo como lembretes da impermanência humana.
Exposição “Entorno”: Martim Meirelles

Exposição “Entorno”: Martim Meirelles

DOCUMENTAÇÃO

Martim Meirelles é um fotógrafo norte americano, que vive e trabalha em Nova York. Descendente de portugueses, Martim transita entre os EUA, Portugal e Moçambique. Sua pesquisa fotográfica documenta vidas humanas que vivem às margens da prosperidade econômica e têm em comum a origem linguística portuguesa. Em seu trabalho nota-se o foco ao belo, à dor e à alegria, ressaltando a capacidade do artista em abordar cada assunto com uma profunda sensibilidade visual. As fotografias aqui presentes são resultado de uma estadia de um ano no orfanato Madre Maria Clara em Moçambique em 2017 e também de uma residência artística em Nazaré em 2014.

  • Documentação de vidas e tradições;
  • Exposição da condição humana.
Exposição “Entorno”: Juliana Matsumura

Exposição “Entorno”: Juliana Matsumura

TERRITÓRIO

Juliana Matsumura é Brasileira que atualmente vive em Lisboa. Formou-se em Desenho na Escola Ar.Co, e frequentou a Graduação em Têxtil e Moda pela USP. A artista é membro do Risco Coletivo, um coletivo de práticas de desenho contemporâneo. O desenho é seu principal meio de expressão e para executá-lo apropria-se de diversas ferramentas como gravura, fotografia e pintura. A série aqui apresentada faz parte do seu trabalho “Memórias da Água”, que aborda o contato mais próximo com sua ascendência japonesa e sua trajetória de imigrante brasileira em terras lusitanas. A desconhecida qualidade de territórios estrangeiros é exposta através de tonalidades difusas como manchas escuras. As formas lembram memórias borradas que se fundem com as expectativas que vêm com o processo de migração. Juliana é capaz de arquitetar novos territórios onde o peso da ancestralidade e as novidades advindas de novas experiências estão simultaneamente presentes.

  • Rios que levam a territórios compartilhados enquanto carregam memórias de uma ancestralidade perdida;
  • O fluxo de água é responsável por alterar seu entorno.
Exposição “Entorno”: Natália Loyola

Exposição “Entorno”: Natália Loyola

Deslocamento

Natália Loyola é formada em Comunicação Social e Jornalismo e cursa mestrado em  Antropologia – Culturas Visuais na Universidade Nova de Lisboa. A sua investigação centra-se no exercício de observação de locais onde circula, especialmente dentro de paisagens urbanas. Suas fotografias funcionam como uma construção imagética de marcadores territoriais de seu próprio processo migratório, todos vistos em suas interações com a própria cidade e seus habitantes. A percepção sensível de Natália parte de dualidades como: movimento vs. quietude; nômade vs. sedentário; real vs. imaginário e evoca uma sensação de familiaridade em relação aos temas de cada imagem. As obras apresentadas refletem o estudo da artista sobre o deslocamento como um exercício de crítica corporal. Natália vive em Almada e trabalha mundo afora.

  • O caminhar como prática crítica corporal;
  • O exercício de tornar lugar a partir do cotidiano;
  • Mapear campos imaginários por meio da apropriação de espaços físicos.
Exposição: Entorno

Exposição: Entorno

O Coletivo Amarelo tem a honra de anunciar a sua exposição inaugural Entorno em Lisboa!

Inauguração: 13 de novembro na Fábrica Braço de Prata, a partir das 19h no segundo andar.

Esta é a primeira exposição física do coletivo após um ano trabalhando apenas digitalmente. A exposição marca o papel do Coletivo Amarelo no panorama cultural e artístico da cidade de Lisboa, apresentando o trabalho de artistas de várias partes do mundo.

Entorno apresenta o trabalho de sete artistas: Juliana Matsumura, Eduardo Dias, Osias André, Gabriela Albuquerque, Martim Meirelles, Natália Loyola e Roberta Goldfarb. As obras apresentadas desdobram uma série de diálogos tecidas por um fio condutor: nosso entorno.

A exposição explora como esses artistas usaram suas práticas para dissecar seus arredores tangíveis, dando aos espectadores a possibilidade de interagir com variações do mesmo conceito. As obras foram subdivididas em cinco subcategorias: observação, deslocamento, território, documentação e impermanência. Embora no ano de 2020 o mundo tenha mudado drasticamente os motores das operações humanas para uma vida essencialmente virtual, os ambientes “reais” que nos cercam ainda são os que mais influenciam nossas experiências. No centro da exposição estão as habilidades individuais dos artistas para abranger a fisicalidade de seus arredores dentro de um quadro. Cada obra é uma resposta ao plano visual que existiu em algum momento no tempo e no espaço, atravessando as suas próprias fronteiras disciplinares (pintura, fotografia e videoinstalação) de forma a aproximar o espectador de uma órbita partilhada.

Seja através da observação do tempo, do deslocamento do corpo e da identidade, da redescoberta de um território perdido, da documentação de experiências ou da impermanência da vida, as obras apresentadas servem como uma tentativa de construção de uma paisagem reflexiva da realidade.

SOBRE OS ARTISTAS:

Osias André

Osias André, natural de Moçambique, emigrou para Portugal há quatro anos onde ganhou três bolsas da escola de arte independente Ar.Co, instituição vocacionada para a experimentação e formação artística. Osias começou a pintar aos oito anos e iniciou sua carreira artística através da ilustração gráfica, produzindo uma coleção de livros. Para ele, a pintura requer uma digestão mais lenta e indireta. As pinturas aqui apresentadas estão ligadas às suas origens africanas, ao mesmo tempo que refletem a busca de identidade de Osias conduzida por meio de uma prática tradicional de ateliê europeu. Atualmente Osias vive e trabalha em Lisboa.

Juliana Matsumura

Juliana Matsumura é uma artista brasileira que atualmente vive e trabalha em Lisboa. Formou-se em Design pela Escola Ar.Co, e cursou a Graduação em Têxtil e Moda na Universidade de São Paulo. O artista também é membro do Risco Coletivo, coletivo de práticas de desenho contemporâneo. O desenho é central na sua prática, utilizando várias ferramentas como a gravura, a fotografia e a pintura. Atualmente Juliana vive e trabalha em Lisboa.

Natália Loyola

Natália Loyola é licenciada em Comunicação Social & Jornalismo e está também a terminar o mestrado em Antropologia – Culturas Visuais na Universidade Nova de Lisboa. A sua investigação centra-se sobretudo no exercício de observação dos lugares por onde circula, sobretudo nas paisagens urbanas. As fotografias de Natália são uma construção de marcadores territoriais imagéticos de seu próprio processo migratório, tudo visto a partir de suas interações com a própria cidade e seus habitantes. Natália atualmente vive e trabalha em Almada, Portugal.

Gabriela Albuquerque

Gabriela Albuquerque é uma artista brasileira, que trabalha e vive em Cascais. Sua pesquisa atual se concentra em paisagens e desenvolvimentos recorrentes além da tradição acadêmica histórica desse gênero. A repetição quase compulsiva de imagens procura exaltar o paradoxo entre a permanência e a impermanência do nosso meio, daquilo que nos é familiar, mas também efémero. A escolha da tinta a óleo como suporte, que segue uma tradição secular, questiona a continuidade de certas práticas que persistem apesar das constantes inovações. A obra de Gabriela tensiona a tradição da pintura a óleo no contexto da arte contemporânea.

Gabriela Albuquerque

Eduardo Dias

Eduardo Dias é biólogo de São Paulo, Brasil e atualmente trabalha na Universidade Presbiteriana Mackenzie como Técnico de Laboratório no Centro de Pesquisa em Biociências. Sua prática o leva a biomas brasileiros como o Pantanal, o Cerrado, a Mata Atlântica, entre outros destinos, e a fotografia desempenha um papel importante em suas viagens. Ele a utiliza como uma ferramenta para dar asas à sua imaginação, mas também como meio para criar um repertório didático em que seus conhecimentos de biologia se fundem com a arte.

Pantanal

Martim Meirelles

Martim Meirelles é um fotógrafo americano que vive e trabalha em Nova York. Descendente de portugueses, Martim transita entre os EUA, Portugal e Moçambique. A sua pesquisa fotográfica documenta vidas humanas que vivem à margem da prosperidade económica e partilham a mesma origem linguística portuguesa. Em seu trabalho, há um foco na beleza, na dor e na alegria, destacando a capacidade do artista de abordar cada assunto com uma profunda sensibilidade visual. As fotografias aqui apresentadas resultam de uma estadia de um ano no orfanato Madre Maria Clara em Moçambique em 2017 e também de uma residência artística na Nazaré em 2014.

Roberta Goldfarb

Roberta Goldfarb é uma artista brasileira que atualmente vive e trabalha em Lisboa. É graduada em Publicidade e Propaganda (FAAP, 2001) com ênfase em fotografia pelo Senac (São Paulo), La Escuela de la Imagen y el Diseño e Centre Cívic Pati Llimona (Barcelona) e International Centre of Photography (Nova Iorque). Sua pesquisa é impulsionada pelo desejo da artista de coletar e catalogar objetos físicos e experiências que, de outra forma, seriam perdidas nas memórias. Roberta constrói esferas de sentimentos e significados exibindo o que vê com os olhos. Entre as exposições de que participou, destacam-se “Dizer Fazer” (Ateliê RG, SP, 2014), “Enquanto Tempo” (Oficina Oswald de Andrade, SP, 2014), Clube dos Colecionadores (NowHere, Lisboa, 2020) e o mostra individual “Levantes, rajadas de vento ou os planos para ver o mundo” (Ateliê RG, SP, 2014) e “Preâmbulos para um Conto de Mundo” (Galeria Rabieh, SP, 2012). Atualmente participa da mostra coletiva “Pedágio de Mim – Foco Brasil” (Not a Museum, Lisboa).

Curadoria de Stephanie Wruck

Para receber o catálogo completo da exposição, envie-nos um email para: contact@coletivoamarelo.com

Percepção

Percepção

Percepção:

efeito de perceber, de compreender o sentido de algo por meio de sentidos.

O ato de observar aquilo que nos rodeia ocorre todos os dias de forma automática e imediata, independentemente dos espaços que estamos inseridos; seja em um museu, dentro de casa ou andando pelas ruas da cidade. A partir dessas observações, é possível atribuir significados a determinadas situações e circunstâncias. 

Partindo dessa ideia, quais são as vantagens em questionar nossos próprios processos de olhar para trabalhos artísticos? 

O tema da vez é a percepção, contextualizada dentro dos mecanismos do olhar. O exercício de observar um trabalho de arte pode acontecer de inúmeras formas, gerando resultados diferentes sobre o próprio trabalho e também sobre o observador. 

Nossa capacidade em atribuir significados a trabalhos artísticos pode se desenvolver de forma mais profunda quando nos encontramos atentos aos nossos próprios processos de observação. Qual é a diferença entre atribuir significados versus um entendimento genuíno e orgânico? 

Existem imagens que funcionam como meio para dar sentido a situações e cenários, e outras que oferecem um entendimento automático sobre aquilo que não foi previamente mastigado para o nosso consumo. Nesse caso, qual seria o papel do observador em produzir significados para trabalhos de arte? 

Nossas percepções também interferem na produção de nossas memórias, fundindo informações imagéticas e criando novas linguagens e significados. Sendo assim, nossos campos imaginários estão constantemente em transformação. É possível cultivar o nosso próprio mecanismo do olhar a se tornar mais profundo e significativo? 

Durante as próximas semanas, iremos propor exercícios do olhar, investigar nossa relação com a maneira que enxergamos trabalhos de arte, e ilustrar o tema trazendo trabalhos de artistas que dialogam com esses questionamentos. 

Imagem: Marco Tirelli