Inauguração do Coletivo Amarelo

Inauguração do Coletivo Amarelo

Temos o prazer de convidá-los para a inauguração do nosso espaço físico em Lisboa, no dia 20 de Maio, das 18h às 21h na Rua Capitão Leitão 74

OXALÁ: JERUSA SIMONE

Inicialmente no âmbito virtual, a plataforma abre seu espaço físico no bairro de Marvila, no dia 20 de maio, com a exposição Oxalá, primeira individual em Lisboa da artista portuguesa Jerusa Simone. Com curadoria de Cristiana Tejo, a mostra compreende pinturas recentes que enfatizam os signos recorrentes em seus trabalhos, tais como o fogo, o olho, corpos dissidentes, numa ambiência onírica que evoca as memórias pessoais da artista.

As exposições do espaço Coletivo Amarelo são como capítulos de uma história que vai sendo desvendada pouco a pouco, convidando os visitantes a retornar para acompanhá-la. Concomitantemente, ocorrerão ocupações na Menor Galeria de Lisboa, um Project room que recebe artistas pertencentes ao coletivo e artistas convidados. A menor galeria estreia com Veridiana Leite, artista brasileira radicada em Lisboa, que explora em suas pinturas paisagens visitadas e imaginadas em composições pictóricas que entrelaçam abstracionismo e figurativismo e seres humanos e não-humanos. Muitas vezes suas telas expandem-se para instalações e objetos.

Iniciamos agora um novo capítulo para o Coletivo Amarelo. Obras de arte são uma parte vital da sociedade e esperamos diminuir o espaço entre a arte e o público, oferecendo experiências criativas genuínas. Venha brindar e celebrar conosco a atmosfera artística vibrante de Marvila!

Oxala

Bienal Internacional do Alentejo

Bienal Internacional do Alentejo

No próximo dia 22, acontece a Bienal Internacional do Alentejo. A edição do evento, que ocorrerá entre os dias 22 e 26 de março de 2023, em Estremoz, contará com a presença de mais de 140 artistas nacionais e internacionais, vindos de 15 países, para garantir a diversidade de modelos e técnicas de expressão artística contemporânea. Entre tantos artistas, Gabriela Albuquerque, sócia-fundadora do Coletivo Amarelo, teve uma de suas obras selecionadas para a exposição.

Inutil Paisagem VI

Inútil Paisagem VI, 2021, Gabriela Albuquerque

Gabriela Albuquerque

Gabriela Albuquerque é uma artista brasileira que busca representar artisticamente sua experiência em diferentes contextos. Sua formação inicial é em Letras pela Universidade de São Paulo, mas logo adentrou o campo das artes visuais ao se graduar em Crítica e Curadoria pela PUC-SP. Em seguida, atuou brevemente como curadora e crítica de arte na cidade de São Paulo.

A artista se mudou para Washington DC, capital dos Estados Unidos, e iniciou sua formação prática como artista visual na escola Art League em Alexandria, na Virgínia. Tudo isso sem abandonar o seu campo de crítica e curadoria, participando ativamente de grupos, encontros e workshops promovidos pelo Smithsonian Institution e pela National Gallery of Art.

Inuteis Paisagens

Paisagem

Paisagem sem titulo

Após três anos vivendo na Virgínia, Gabriela Albuquerque se mudou para Seattle, no estado de Washington. Na nova cidade, ela ingressou na Gage Academy of Art onde deu continuidade à sua formação artística.

Atualmente, Gabriela vive em Cascais, Portugal.  A brasileira terminou sua formação em Pintura no centro de estudos Ar.CO e atualmente faz parte do grupo de estudos e acompanhamento crítico NowHere, sob a orientação da curadora Cristiana Tejo.

A Bienal Internacional do Alentejo

A primeira edição da BIALE é organizada pela ARTMOZ com o apoio da Câmara Municipal de Estremoz, Direção Regional de Cultura do Alentejo e tem como parceiros a Bienal Internacional de Artes de Cerveira e a Sociedade Nacional de Belas Artes. Entre os trabalhos de artistas internacionais e nacionais, estão obras que englobam pinturas, desenhos, aquarelas, esculturas, cerâmicas e fotografias.

O evento começa no dia 22 de março com a inauguração prevista para as 18h30. No domingo, 26 de março, acontecerá a sessão de encerramento da Bienal Internacional do Alentejo.

Fica o nosso convite para você comparecer a este evento e aproveitar a chance de conhecer obras de artistas vindos de 15 países. Inclusive, a brasileira Gabriela Albuquerque, nossa sócia-fundadora.

Biale

 

Arte e Política no Brasil

Arte e Política no Brasil

É impossível negar que arte e política estão interligadas. Seja pela vontade do artista em manifestar o seu posicionamento ou pela ausência do mesmo, de uma maneira ou outra, a arte transmite uma mensagem política. Uma das vontades inerentes ao ser humano que motiva essa manifestação é a aspiração pela liberdade. No contexto histórico brasileiro isso não seria diferente. Afinal, a prática de fazer arte no Brasil é, por si só, um ato político. Pensando nisso, no artigo de hoje vamos abordar a intersecção entre arte e a política no trabalho de artistas brasileiros e o seu impacto no país.​​​​​​​​

Arte é política!

A arte é e sempre foi uma expressão política! É possível, inclusive, analisar essa ligação em diferentes momentos históricos. Seja no Renascimento, quando as pinturas eram encomendadas e executadas de acordo com o posicionamento político do comprador. Seja em um momento ditatorial quando a arte é censurada. A arte é política e a expressão artística possui uma força, seja ela intencional ou não.

Ao criar uma obra de arte, o artista pode escolher manifestar-se contra o sistema, contra a opressão e contra normas ultrapassadas da sociedade, por exemplo. Existe uma infinidade de posicionamentos que um artista pode empregar em seu trabalho. Assim como existem também os artistas que não buscam expressar um posicionamento político, no entanto, a ausência de expressão é um posicionamento por si só.

Diferente do que muitos pensam, a ligação entre arte e política não precisa ter um cunho panfletário. Ou seja, que apoie uma ideia com radicalismo e massivamente. O simples fato de determinados artistas se expressarem e demonstrarem a sua realidade em suas obras é um ato político.

Quando falamos em arte e política, também é comum que a sociedade entenda isso como uma imposição de doutrinação ao espectador. Contudo, a realidade prova que esse é um pensamento raso e sem muito fundamento. Afinal, a arte é subjetiva e interage com cada indivíduo de uma maneira diferente. São vários os estímulos e impactos que a expressão artística causa no observador e a sua interpretação depende de sua bagagem cultural, política e social.

 

Arte e Política no Contexto Brasileiro

No Brasil, um país rico em cultura e diversidade, a arte é uma forte ferramenta política. Para ilustrar isso, traçamos uma linha do tempo com diferentes artistas e seus impactos na sociedade brasileira.

Almeida Júnior – Caipira picando fumo

O artista viveu no século XIX, mais precisamente entre 1850 e 1899. Almeida Júnior é habitualmente relacionado a uma palavra que pode ser observada como pejorativa: “caipira”. Essa relação vem da sua representação do povo brasileiro em sua pluralidade, focando nas pessoas “comuns” e fugindo da representação dos ilustres e aristocráticos, como era de praxe.

Oswald de Andrade – Manifesto Antropofágico

A década de 1920 é um marco histórico para a arte brasileira. Há 101 anos, aconteceu a Semana de Arte Moderna iniciando o movimento modernista no país. Alguns anos depois, em 1928, Oswald de Andrade publicou o seu Manifesto Antropofágico. Inspirado pelas ideias do artista e ativista político Filippo Tommaso Marinetti, o idealizador do futurismo na arte, Andrade fundou um movimento histórico.

O artista publicou o seu manifesto na revista Antropofagia, em São Paulo, com o objetivo de “engolir” técnicas e influências de outros países. Desse modo, Oswald de Andrade incentivou a criação de uma nova estética artística brasileira.

O movimento levou esse nome por promover o “canibalismo” da cultura estrangeira. Afinal, a cultura estrangeira influenciava demasiadamente a arte brasileira. O objetivo do artista era fomentar uma nova identidade brasileira, multicultural e original, assim como o seu povo.

Tarsila do Amaral – Abaporu

Um dos quadros mais famosos da aclamada artista brasileira, o Abaporu dialoga diretamente com o trabalho do seu marido, Oswald de Andrade, no Manifesto Antropofágico.

A pintura apresenta um homem sentado com membros desproporcionais, com os pés e mãos aumentados e a cabeça minúscula quando comparada ao restante do corpo. Além disso, o sol no centro da pintura e a representação de um cacto reforçam a ideia que podemos compreender do quadro.

A obra é vista como uma crítica ao trabalho físico, exaustivo e com pouco pensamento crítico, representando a realidade de grande parte da população na época. O quadro foi pintado em 1928 e marca a fase antropofágica da artista, que durou até 1930.

A arte e a política durante a Ditadura Militar no Brasil

Durante os anos de 1964 e 1985, o Brasil passou pela Ditadura Militar, um período obscuro e repressor. Foram quase 30 anos de opressão militar e os artistas, claro, foram uma das grandes classes atingidas, perseguidas e censuradas pela ditadura.

A arte enquanto política não se calou, pelo contrário. Mesmo vivendo em uma época de censura, muitos artistas  usaram o seu trabalho em prol da liberdade de expressão, que era cada vez mais silenciada.

Separamos alguns dos artistas que se destacaram na luta contra um sistema opressor e ditatorial:

Cildo Meireles – Desvio para o Vermelho

Cildo Meireles é um artista brasileiro conhecido por seu pioneirismo na criação de instalações de arte no país. Durante a ditadura, o artista demonstrou forte posicionamento político, o que podemos analisar na sua instalação “Desvio para o Vermelho” (1967 – 1984). A instalação é marcada por essas duas datas pois marca o ano em que foi idealizada (1967) e o ano de sua primeira montagem (1984).

A obra é dividida em três salas pintadas de vermelho e articuladas entre si. No primeiro ambiente, Impregnação, somos inseridos em um cômodo branco repleto por móveis e obras em tons de vermelho. Isso é contrastado na penumbra de Entorno, o segundo ambiente, onde é possível observar uma garrafa tombada, com um líquido vermelho escorrendo em um ambiente totalmente escuro. Já no último ambiente, Desvio, o som da água corrente guia o observador em um quarto completamente escuro. A escuridão é quebrada apenas por uma pia descolada, onde uma água vermelha escorre, criando sonoridade.

Hélio Oiticica – Tropicália

Tropicália é um termo elaborado pelo artista Hélio Oiticica e representado em uma instalação exposta na mostra Nova Objetividade Brasileira, realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro em 1967. A obra é um ambiente composto de Penetráveis, PN2 (1966) – Pureza É um Mito, e PN3 (1966-1967) – Imagético. Esse foi o trabalho que inspirou a criação estética do movimento tropicalista entre as décadas de 1960 e 1970.

A obra é rica em elementos típicos da cultura popular brasileira, como areia, terra, plantas tropicais, tecidos, entre outros. Todos esses elementos em conjunto, subvertiam a ordem da estética do modernismo europeu.

Anna Maria Maiolino – “What’s left”

Através de um trabalho político e provocativo, a artista ítalo-brasileira Anna Maria Maiolino explorou diferentes materiais e meios de expressão. Durante os períodos ditatoriais, as questões sempre presentes foram: “Como falar? Como se comunicar em tempos de ditadura?”.

Essas dúvidas são expressadas na obra da artista, como a fotografia “O que Sobra” (1974), que apresenta uma mulher com a língua exposta entre uma tesoura. Através de sua arte, a artista questiona!

Adriana Varejão

A artista tem uma visão e trabalhos únicos. A sua obra parte de uma indagação: “E se as paredes tivessem vísceras, músculos e sangue?”. Adriana Varejão está entre os nomes mais importantes da arte contemporânea brasileira e conta com um pavilhão dedicado ao seu trabalho em Inhotim, o maior museu a céu aberto do mundo, localizado em Brumadinho, Minas Gerais.

Entretanto, a sua obra não se mantém apenas na ideia das paredes que simulam entranhas humanas. Nas suas obras em exposição em Inhotim, a artista critica as feridas deixadas pela história brasileira.

Regina Parra

A artista expressa a sua arte através da pintura, da fotografia e do vídeo, com forte cunho político ligado às questões atuais sobre feminismo e sobrevivência em um universo ainda misógino e machista. Regina Parra aborda temas como a opressão, a insubordinação e a resistência feminina em suas obras.

Arte e política no cenário atual do Brasil

A política brasileira tem enfrentado rupturas, para dizer o mínimo. Foram quatro anos de um governo que era declaradamente contra a expressão artística. O Ministério da Cultura foi extinto logo no início do mandato do ex-presidente, o audiovisual foi sucateado e a arte desestimulada.

O ano de 2023 iniciou com a troca deste governo, mas a transição não tem sido tranquila. O atual presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, tomou posse no dia 01 de janeiro e, apenas uma semana depois, apoiadores do ex-presidente invadiram os prédios dos três poderes em Brasília. Os atentados terroristas realizados por um grupo articulado deixaram um cenário devastador.

O patrimônio público do país foi destruído ou danificado, incluindo obras de arte de valor inestimável. Entre as perdas, está o quadro As Mulatas, de Di Cavalcanti. Trata-se de um painel horizontal com grande destaque para quatro figuras femininas que trabalham sobrepostas à uma grande paisagem. São mulheres de peles acastanhadas, mestiças e mulatas.

Nessa pintura, o artista usa da mesma lógica de Almeida Júnior, que é dar protagonismo a figuras marginalizadas e oprimidas socialmente, mas que são o cerne do funcionamento do nosso tecido social. Estimada em R$ 8 milhões, a obra em questão ficava no Salão Nobre do Palácio do Planalto e teve sete rasgos em sua tela.

Além da aclamada obra de Di Cavalcante, diversas obras de arte foram atingidas e destruídas nos ataques terroristas de 08 de janeiro de 2023.

A destruição desse patrimônio por extremistas prova que a arte é política! Prova que a arte é, sim, necessária. Afinal, a realidade brasileira expressada com o intuito de enfrentamento gera desconforto até nos mais leigos. A arte é política e sempre será, independentemente de quantas forças contrárias surjam.

Shikha Baheti

Shikha Baheti

O Coletivo Amarelo tem o orgulho de trazer mais uma artista incrível para o nosso repertório. Shikha Baheti Lohia é uma artista indiana com uma visão e arte únicas.

Conheça Shikha Baheti, uma artista que expressa suas experiências através da arte botânica e tinta preta

As obras de Shikha Baheti são um resumo visual de suas reflexões e princípios sobre facetas da natureza que não são apenas estéticas, mas existenciais. Afinal, tempo e experiência, sabedoria e idade, morte e sobrevivência são partes intrínsecas do processo de viver.

Artista emergente de Hyderabad, capital do estado de Telangana, Shikha criou desenhos botânicos abstratos assimilando os aspectos fisiológicos da sobrevivência, idade e sabedoria, usando flores como tema de seu trabalho. A artista desconstrói a flor para expor seus aspectos primordiais de reprodução, fome e sobrevivência.

Traçando paralelos com sua maioridade depois de se tornar mãe, Shikha olha além da beleza e fragilidade que as flores são frequentemente associadas e as vê como um farol matriarcal de sabedoria, determinação e resiliência. Seu uso de tinta preta é inspirado não apenas por sua formação educacional, mas também pelo fato de que preto e branco são abrangentes e, em sua opinião, as cores mais puras, humildes e verdadeiras.

Atualmente, o artista está em cartaz com duas exposições, uma na Art Mela e outra na The Holy Art Gallery, em Londres, galeria dedicada a artistas emergentes.

É uma honra receber Shikha Baheti no Coletivo Amarelo.

A representação das flores na arte feminina

Shikha Baheti não é a primeira mulher a usar a representação de flores em sua arte. Selecionamos quatro mulheres artistas que, ao longo de suas carreiras, representaram flores em sua visão artística.

Georgia O’Keeffe

A artista americana é conhecida por suas pinturas poéticas de diferentes espécies de flores e é considerada uma das principais figuras femininas da história da arte.

Seu uso da cor e as formas orgânicas das flores trazem um ar feminino e delicado que também vem do grande interesse da pintora pela música. As flores aparecem em suas pinturas desde 1918, mas foi somente em 1924 que ela pintou sua primeira flor ampliada. Entre 1918 e 1932, o artista produziu mais de 200 pinturas de todos os tipos de flores: rosas, petúnias, papoulas, camélias, girassóis, etc.

Red Canna, Georgia O’Keeffe

Marianne North

Marianne foi uma bióloga inglesa, também conhecida por suas pinturas de flores, plantas e paisagens naturais. Seu trabalho capturou de forma notável e incrivelmente precisa os detalhes mais profundos da botânica.

Em 1870, viajou para o Brasil, onde passou 8 meses produzindo mais de 100 pinturas a partir da observação do ecossistema e da fauna que ali encontrava. Esta paixão pelas paisagens e pela pintura levou a artista à reclusão numa cabana na floresta, onde pintou a óleo as paisagens que encontrou.

Flor de Páscoa ou Easter Flower, Morro Velho, Brasil, Marianne North

Anna Atkins

Botânica e fotógrafa, Atkins foi a primeira artista a publicar um livro fotográfico com imagens, além de ser uma das primeiras mulheres fotógrafas. Anna produziu cianotipias, que são imagens impressas em azul, no caso da artista, de flores e plantas. Suas armações eram revolucionárias para a época. Nelas, a artista colocou plantas sobre papel fotográfico, produzindo delicados fotogramas. O incrível desse processo é que ele foi feito em 1850!

Cyanotype of Cystoseira fibrosa, Anna Atkins’ British Algae

Hilma af Klint

A sueca Hilma af Klint é considerada pioneira da arte abstrata. Em meados da década de 1890, o artista produziu alguns estudos botânicos e os transferiu para desenhos detalhados em aquarela e grafite sobre papel.

Entre os anos de 1906 e 1915, Hilma criou mais de 150 pinturas.

On the Viewing of Flowers and Trees, Hilma af Klint

Shikha Baheti trilha seu caminho para se juntar a esses grandes artistas como uma mulher que usa flores para representar toda a complexidade de sua existência. O Coletivo Amarelo tem muito orgulho de fazer parte dessa história. Compre agora as obras exclusivas de Shikha.

Gianlluca Carneiro e a educação artística como um coletivo

Gianlluca Carneiro e a educação artística como um coletivo

Como aprender sobre arte? Essa questão um tanto quanto subjetiva é trabalhada por um dos mais novos artistas a se juntar ao Coletivo Amarelo, o Gianlluca Carneiro. O artista e professor brasileiro está diretamente envolvido com projetos de cidadania e ética, e dentro da sala de aula, ele encontrou maneiras de introduzir aos seus alunos a política por meio da educação através da arte.

Conheça Gianlluca Carneiro e sua visão sobre a educação na arte

Em seu portfólio, Gianlluca compartilha um pouco de sua história. Nascido em Minas Gerais, no Brasil, o artista visual também é professor de história da rede municipal de Cariacica, no Espírito Santo. Além disso, Gianlluca é bacharel em direito e estudou arte e educação no CEFART em Belo Horizonte.

Desde muito cedo, mais precisamente desde os 6 anos de idade, Gianlluca se demonstrou um artista através da pintura. De lá para cá, são mais de 20 anos de carreira levando a sua arte para diferentes exposições em Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo. Sem contar as publicações em revistas e exibições de renome nacional e internacional, como a sua obra “Humor Azul, Coração Azul” que foi finalista na Doncaster Art Fair.

Gianlluca Carneiro denomina o seu universo artístico como Cabeça Vazia, uma brincadeira com o ditado popular “cabeça vazia, oficina do diabo”. Em suas próprias palavras: “O importante é que essa cabeça vazia vive cheia e ocupada em produzir obras com cores, traços e composições coloridas e caóticas sempre apoiadas em críticas às estruturas políticas e sociais e do modo de vida contemporâneo”.

O artista contemporâneo está alinhado com as discussões mais recentes presentes ao redor do mundo. Sendo uma delas, a importância de repensar o atual sistema de educação artística.

 

Documenta 15

Documenta é uma das maiores exposições de arte contemporânea do mundo e acontece a cada cinco anos na cidade de Kassel, na Alemanha. A exposição foi criada em 1955 por Arnold Bode, em uma Alemanha pós-guerra. Parte da sua motivação surgiu da necessidade de retomar a arte que foi banida pelo nazismo e reintroduzir o país às últimas tendências internacionais. Desde então, a exposição Documenta 15 virou uma instituição importantíssima no mundo da arte.

Em 2022, aconteceu a 15ª edição da exposição, curada pelo coletivo ruangrupa de Jacarta, na Indonésia. O coletivo baseou a Documenta nos valores e ideias de um termo bastante comum na Indonésia, lumbung, que significa algo como “celeiro comunitário de arroz”. A ideia de utilizar esse termo como um modelo artístico e econômico é baseada em princípios como a coletividade, a construção conjunta de recursos e a sua distribuição justa.

Nesta edição, vários pontos ressoaram e um deles dialoga diretamente com a arte e o posicionamento ativo de Gianlluca Carneiro, que é repensar as estruturas da educação artística contemporânea. Na exposição, isso se traduz a partir da ideia do coletivo e questiona o porquê não podemos aprender uns com os outros, quebrando paradigmas, como a figura de autoridade do professor?

Essa ideia de transformar a educação é expressada na Documenta 15 através da arte do *foundationClass, um coletivo formado em 2016 na Weißensee Kunsthochschule Berlin (KHB). O coletivo surgiu como uma plataforma educacional para arte e um conjunto de ferramentas criado para facilitar a vida de imigrantes que são afetados pelo racismo na Alemanha.

Para nos aprofundarmos nesse conceito de uma educação artística coletiva e conhecermos melhor o artista, o Coletivo Amarelo realizou uma entrevista com o Gianlluca Carneiro. Leia um trecho da nossa conversa, que abrimos com uma fala do artista que unifica todo esse pensamento por trás da educação artística e desse potencial não explorado.

Gianlluca: Vejo muito potencial artístico entre os meus alunos que dentro da escola não é tão explorado e eu, como professor e artista, tento trazer isso pra eles a todo momento. Trazer o que? Trazer ideias para despertar algo neles, desmistificar essa ideia de que arte é só no museu, sendo que na verdade a gente faz arte o tempo inteiro. E usar isso pra debater política

Coletivo Amarelo: Existem obstáculos dentro da escola para trazer esses novos modelos? Qual é a resistência?

Gianlluca: O mais louco de tudo isso é que eu faço parte de um projeto chamado Ensina Brasil, destinado para áreas de vulnerabilidade social, e por coincidência eu caí numa escola onde existem militares. Por um momento achei que isso iria ser um empecilho, mas consigo trazer o assunto da política de maneira mais profunda, sem discursos superficiais e também sem partidarismo. Mas fazer isso usando a arte, torna até o processo mais fácil dentro da escola, por incrível que pareça.

Coletivo Amarelo: A figura do professor é um lugar de conforto, de segurança, onde “não existem perguntas burras”, um espaço menos intimidador… Você, como professor, qual conselho daria para aqueles que querem começar a fazer arte, aprender mais sobre arte, mas não sabem bem por onde começar ou talvez se sintam acanhados?

Gianlluca: O afastamento da arte às vezes vem de linguagens muito complexas, difíceis da gente introduzir as pessoas… vou te dar um exemplo de algo que aconteceu comigo essa semana. Eu fiz um concurso de arte na escola, frisei que ia ter prêmio, mas que não era para estimular aquela competitividade agressiva e, sim, estimular a criação.

Um aluno meu da educação especial, ele tem um olho de vidro, baixa visão, e ganhou o concurso de desenho. Foi uma banca de fora, o sorriso dele era algo inacreditável. Outra aluna, com uma auto estima baixíssima, ganhou o concurso de pintura, e ela nunca conseguia enxergar o que ela fazia. Sempre dizendo que tudo que fazia era uma merd*… Isso me mostrou mais uma vez, que arte é aquilo que a gente faz da forma mais genuína possível.

O jeito de começar é de fato complicado, mas hoje temos tantas formas novas, coletivos como o Coletivo Amarelo, propostas alternativas, lugares que nos recebem de forma mais aberta e que estimulam a gente a fazer. Isso serve pra quem tá começando a fazer arte, consumir, viver disso. Por mais banal que seja, o segredo é se jogar por inteiro.

Coletivo Amarelo: Isso que você falou, sobre hoje termos acesso à tantas ferramentas e informações, às vezes assusta também. Pois talvez faça com que a pessoa fique um pouco sem saber por onde começar ou sem entender onde ela se encaixa nisso tudo… E a gente acaba esquecendo que o fazer artístico é um processo demorado, que leva tempo, uma digestão lenta mesmo. O processo do artista de ficar ali recluso, “esperando algo” acontecer, é extremamente solitário às vezes e super confuso.

Gianlluca: É um processo que demora muito mesmo. E a gente não faz para uma galeria, a gente faz porque tem que ser feito. Eu sou um pouco louco… eu tenho meu sketchbook, meus rabiscos… e as ideias vêm, as cores, as formas, e a partir delas eu vou experimentando. A maioria das vezes não chega aonde eu quero. São camadas que vão se construindo e, eu não tenho medo, não fico planejando demais, sou mais da ação.

Obras exclusivas de Gianlluca estão disponíveis em nossa loja, confira!

JERUSA SIMONE E A MULHER NO SURREALISMO

JERUSA SIMONE E A MULHER NO SURREALISMO

O Coletivo Amarelo está em constante crescimento e temos o orgulho de apresentar mais uma artista que fará parte do coletivo, a Jerusa Simone. A artista portuguesa, que hoje vive em Zurique, tem um olhar único angariado ao longo de sua vida e expressado através de sua arte. Ao tentar recriar memórias e emoções, o trabalho de Jerusa dialoga com o surrealismo.

Conheça Jerusa Simone, uma artista que recria momentos e experiências através do surrealismo

A arte de Jerusa Simone é baseada principalmente em suas experiências pessoais diárias, emoções e memórias recorrentes. Durante o seu processo, muitas vezes, a artista trabalha a partir de desenhos ingênuos que surgem de fundos abstratos desprovidos de uma ideia pré-existente. Desse modo, Jerusa abraça a pintura como um ato baseado em movimentos espontâneos e escolhas intuitivas.

Essa origem da arte no subconsciente e a tentativa de recriar memórias está diretamente ligada ao surrealismo, expressado através de suas criações. Seus objetos tomam formas a partir da sutileza e de linhas informais, formando figuras humanas, reproduzindo sinais visuais familiares, em conjunto com certa estranheza.

A fim de estimular o espectador visual e intelectualmente, todo o trabalho da artista consiste em reconstruir a conexão entre símbolos, significados, cores e texturas, independentemente do meio utilizado.

Jerusa Simone é originária da cidade do Porto, em Portugal, mas hoje vive em Zurique, na Suíça. A artista é formada em artes plásticas pela Escola Artística do Porto e pela Accademia di Belli Arti di Roma.

Nos últimos anos, Jerusa tem explorado diferentes suportes da pintura através da videoarte. Com isso, ela conseguiu a oportunidade de expor internacionalmente em diferentes contextos e lugares, como Portugal, Itália, Arábia Saudita, Inglaterra, Grécia, Espanha, Estados Unidos e, recentemente em seu país sede, a Suíça.

A mulher e o surrealismo

Neste ano, a Bienal de Veneza realizou a sua 59ª edição e pela primeira vez em 127 anos exibiu, em sua maioria, artistas femininas. Nesta edição, a Bienal abordou os mistérios do subconsciente humano e seus surrealismos a partir da perspectiva de artistas mulheres.

Curada pela italiana Cecília Alemani, a exposição explorou temas que orbitam a imaginação de diferentes realidades, o universo dos sonhos e novas percepções sobre o que significa ser humano. Além disso, interligou a influência da tecnologia na criação de novos seres e o resgate da nossa imaginação enquanto crianças.

A obra de Jerusa, por sua vez, está inteiramente ligada ao tema da exposição. Essa relação é marcada principalmente pela tentativa da artista em revisitar memórias através da pintura. Ao realizar esse exercício de memória, a artista cria cenários estranhos, porém um tanto familiar ao espectador.

Acompanhando essa tendência da mulher no surrealismo, Jerusa Simone cria algo surreal em meio aos tempos confusos e intensos que estamos vivendo.

Para recebê-la no Coletivo Amarelo e unir a sua visão única à nossa, nós realizamos uma entrevista com a artista. Leia um trecho da nossa conversa e conheça um pouco mais sobre Jerusa Simone, uma mulher que utiliza de suas vivências e do surrealismo para expressar sua arte.

Coletivo Amarelo: Sobre o quadro “Memórias de uma partida futura”, é interessante a brincadeira que você faz com as palavras: “memória” sendo algo que remete a um passado, de algo que ainda não aconteceu, que está no futuro. Existe uma certa tentativa de manipulação do tempo, de trânsito… fale um pouco mais sobre esse trabalho, qual foi o processo de criação por trás dele?

Jerusa Simone: Basicamente, aquele quadro foi feito em um momento muito específico de transição, estava na Itália, prestes a me mudar para a Suíça. Este sentimento é muito estranho, mas já era conhecido. Uma zona que eu já sabia mais ou menos que eu ia enfrentar. Lidar com a cena do novo e do velho, essa dualidade. O quadro está dividido em duas partes: a parte de cima com elementos relacionados à coluna italiana. Este corpo quase obeso, que é inspirado na obra do Lucien Freud. Eu olhava para aquele corpo, e queria trazer essa ideia do belo e do feio, e voltar a dar espaço para mulher, sem hipersexualizar o corpo feminino, mas trazer outros corpos. Eu queria me ver representada. Sempre tive muitos problemas comigo mesma, então olhando pros quadros do Freud, eu pensava: “Wow, isso é grotesco, mas tão bonito”. Esses corpos marginalizados, quase que um confronto, forçar o público a olhar. E o corpo sempre tem um contorno vermelho, e ele está sempre nos cantos, mas sempre presente. A posição reflete isso, essa fase de mudança, de medo. É um lugar familiar, mas dá medo.

CA: Tem uma qualidade de sonho, que acordamos e o sonho está muito nítido, e conforme o tempo vai passando, os detalhes do sonho vão se dissipando. E seu trabalho tem essa característica de memória um pouco embaçada. Como que é fazer uma pintura que reflete o seu momento presente, e depois de anos, revisitar essa mesma pintura e olhar para essas memórias, um pouco confusas, com essa qualidade de sonho? Algo mudou?

Jerusa Simone: Olhando pra ele agora, eu consigo sentir todas as minhas motivações, eu lembro de todos os elementos que eu coloquei, que eu eliminei… e agora nesse momento estou no sítio que eu queria estar quando fiz esse quadro. Já estou na Suíça faz dois anos, mas, entretanto, eu superei esse meu medo que estava muito presente nesse trabalho. Esse elemento de colocar a mão no fogo é algo que eu uso muito, é quase que um auto retrato, eu me coloco em perigo, mas não consigo evitar. Uma autossabotagem, uma cena de transição, de deixar algo para trás.

CA: Essa pintura ilustra um evento de transição pessoal sua, que você se mudou de um lugar para outro e colocou os elementos que estavam presentes nesse processo. Mas por mais que isso tenha sido um recorte específico da sua vida, eu consigo olhar para isso e me enxergar ali de alguma forma, talvez em alguma transição que eu estive, mas faço isso por meio de um sonho de outra pessoa. Quase como se eu tivesse visitado o sonho de outra pessoa.  Você acha que isso faz parte do surrealismo feminino?

Jerusa Simone: Tive a descobrir esse pequeno nicho (o surrealismo feminino), que é esse jogo que eu faço com vários elementos, essa troca de significados dos elementos que eu uso, e conforme o tempo vai passando e vou acumulando novas vivências, coisas vão sendo apagadas e se transformando. Então o meu trabalho faz esse jogo, quase que um quebra cabeça mesmo…

Obras exclusivas de Jerusa estão disponíveis em nossa loja, confira!

Rafaela Salgueiro e Duda Affonso: Colaboração na Marina de Cascais

Rafaela Salgueiro e Duda Affonso: Colaboração na Marina de Cascais

E se pudéssemos re-imaginar as paisagens que circulamos através da arte?

A peça “Náutica 01” é uma colaboração entre Rafaela Salgueiro e Duda Affonso, ambas artistas brasileiras residentes em Portugal.

A dupla propõe, a partir de suas investigações teóricas e poéticas individuais, uma parceria que visa mesclar a fotografia com a intervenção pictórica. Seguindo uma proposta de invenção de realidades, as artistas enxergam na intervenção fotográfica uma forma de criar novos mundos possíveis. Rafaela acredita que a pintura nos permite expandir nossa imaginação além das fronteiras do que é representado por uma fotografia.

O trabalho de Rafaela explora o mecanismo de simultaneamente revelar e ocultar elementos de uma imagem, dando ao espectador novas possibilidades de interação enquanto constrói outras narrativas. Duda Affonso, por sua vez, observa o mundo e recolhe resquícios de histórias que um dia poderiam existir, seja por meio da fotografia, da colagem ou do cinema, enquanto constrói seu próprio imaginário.

Esta peça é um convite a re-imaginar a paisagem náutica celebrando a revitalização da Marina de Cascais, Portugal. Ao adicionar camadas de tinta sobre cada elemento da imagem, a artista revela possíveis realidades que talvez vivam apenas dentro do nosso subconsciente.

Fotografia feita em 35mm na Itália, 2019.

Gabriela Vasconcellos: Fotografia Analógica Que Nos Faz Sentir

Gabriela Vasconcellos: Fotografia Analógica Que Nos Faz Sentir

Através de uma perspectiva acolhedora e íntima, Gabriela Vasconcellos capta o trivial, criando composições que pretendem nos fazer enfrentar sentimentos e sensações interiores. Seu trabalho serve como uma tentativa de nos conectar à nossa essência usando uma abordagem intuitiva. As fotografias apresentam-se como uma energia calma, e é através do domínio da textura e do tom que Gabriela consegue libertar-se do óbvio. Ela aplica cuidadosamente elementos da vida cotidiana, adicionando uma camada de delicadeza e ternura combinada com a estética nostálgica da fotografia analógica. O resultado são fotos incrivelmente sensíveis nas quais a artista acredita que podem ser uma maneira de redescobrir partes ocultas de nós mesmos.

Brechas II

Natural do Brasil, Gabriela trabalha como jornalista e arteterapeuta, além de capturar seu entorno com uma câmera 35mm. Filmar em filme significa experimentar a passagem do tempo de forma diferente e ela se interessa em capturar os pequenos momentos do dia a dia, sentir o tempo em sua totalidade e se permitir desacelerar. Em tempos de aceleração digital e produtividade, é radical adotar a abordagem oposta quando se trata de trabalho. As fotografias de Gabriela nos ajudam a refletir sobre a maneira como nos movemos na vida, oferecendo uma chance de simplesmente fazer uma pausa.

Gabriela compartilhou conosco algumas dicas importantes sobre fotografar com filme e o que mais a ajudou quando ela começou seu processo de experimentação com a fotografia analógica. 

 

Maneiras de tirar melhores fotos com sua câmera analógica segundo Gabriella Vasconcelos

1)Revele suas fotos

Essa dica pode parecer extremamente óbvia, mas é muito comum as pessoas comprarem uma câmera analógica, esperando tirar fotos bonitas, mas nunca revelar o filme. Gabriella diz que é importante revelar o filme para ver que tipo de fotos estamos tirando e o que pode ser melhorado. Portanto, não acumule rolos intermináveis ​​de filmes não revelados, vá revelar!

Gabriela diz: “A outra razão pela qual é importante revelar seu filme é porque isso permitirá que o processo analógico entre de fato em sua prática criativa. Muitas pessoas são relutantes em começar a fotografar em filme porque acham que é preciso muito esforço, mas isso é porque ainda não incorporaram o hábito de revelar o filme em sua rotina de trabalho. Eu costumava tirar fotos o tempo todo usando uma câmera de filme, mas nunca tirava o tempo para realmente revelar o filme, então eu nem sabia que tipo de trabalho eu estava produzindo.”

Intimidade Exposta

Brechas

2) Sempre tenha filme extras com você

Você nunca sabe quando vai ficar sem filme, então este é seu lembrete para sempre ter um rolo de filme extra por perto. Assim você nunca perde aquela oportunidade de fotografar algo especial que encontrou.

3) Esteja atento aos seus entornos

Ao fotografar em filme, você nunca sabe qual será o resultado. Gabriella acha importante estar mais atenta quando for passear. “Olhe para cima, olhe para baixo, explore todos os ângulos ao seu redor e experimente. Você nunca sabe o que vai sair – e isso é uma coisa boa! ​​Leve o seu tempo com isso também, isso adiciona camadas de pensamento às suas fotos”.

Chao de Pedras

4) Tenha em mente que o processo analógico segue seu próprio tempo

Vale a pena notar que tirar fotos com uma câmera de filme implica que todo o processo se desenvolve de maneira diferente do digital. A fotografia analógica tem suas próprias limitações de tempo e especificidades e Gabriella acredita que é imperativo mergulhar no processo e se acostumar com ele. 

“Leva tempo para revelar o filme, para digitalizar as fotos (se isso for algo que você gostaria de fazer) e entender esse tempo não como um problema, mas como um processo que te permite estar muito mais presente enquanto você está fotografando. É uma experiência totalmente diferente tirar uma fotografia de algo usando seu telefone e uma câmera de filme. Mesmo que eu esteja fotografando exatamente o mesmo objeto –  é importante se sentir confortável com o processo em si.”

As fotografias de Gabriela estão disponíveis na nossa loja para compra. 

Gradient Art: o que é? O uso de gradientes de cor de Mark Rothko

Gradient Art: o que é? O uso de gradientes de cor de Mark Rothko

Gradient Art é uma técnica que usa cores de um gradiente para criar uma obra de arte. Um aumento na popularidade da arte gradiente têm ocorrido, que é quando ocorre uma mistura gradual de uma cor para outra, criando diferentes transições de cores. Dependendo das cores utilizadas, a arte degradê resultante pode evocar uma ampla gama de emoções e sentimentos, transformando seus espaços circundantes.

O que é arte gradiente?

A arte gradiente é um tipo de arte que usa um gradiente de cores para criar a ilusão de profundidade e espaço tridimensional. As cores também são usadas em outras formas, como pintura, desenho, escultura, fotografia, etc. Com este tipo de arte, a luz pode ser lançada em um objeto de diferentes ângulos, dando-lhe uma aparência realista. As cores também mudam dependendo de como você as visualizou, proporcionando um apelo artístico e permitindo diferentes interpretações por parte dos espectadores.

Artistas usam diferentes técnicas para criar essas pinturas, como camadas, misturas e aplicação de gradientes com cores ou texturas diferentes. Eles podem fazer isso usando vários pincéis, lápis, pastéis ou até mesmo os dedos.

Mas o que são gradientes? E como eles diferem de cores?

Gradientes são transições de cores que mudam gradualmente de uma cor para outra. Os ângulos são normalmente criados com uma série de tintas misturadas em graus variados. Os gradientes de cor são o tipo mais comum de gradiente e podem ser usados ​​para planos de fundo ou bordas, mas também podem ser usados ​​para outros fins, como criar uma parede de destaque ou adicionar profundidade a uma imagem. Um gradiente de arco-íris é frequentemente usado para criar profundidade e dimensão nas imagens.

Existem diferentes tipos de gradientes, incluindo gradientes radiais, gradientes lineares e gradientes diagonais.

Mark Rothko e seu próprio uso de arte gradiente

Conhecido por suas pinturas grandes, encapsulantes e coloridas, Mark Rothko estava interessado em evocar emoções humanas básicas – raiva, desgraça, êxtase – através da pintura. Seu trabalho foi expansivo no uso da cor, bem como nos amplos espaços abertos criados, permitindo ao espectador experimentar diferentes sensações.

Os gradientes de Rothko não foram misturados com precisão, em vez disso, foram construídos de uma maneira que convidava o espectador a questionar qual cor foi colocada primeiro na tela. Ele desenvolveu sua técnica de composição pela primeira vez em 1947, descrita pelo famoso crítico de arte Clement Greenberg como “pintura de campo colorido”, um termo que descreveria perfeitamente o trabalho de Rothko.

Os gradientes de Rothko são diferentes de qualquer outro por causa da maneira como o artista criava suas pinturas. Rothko aplicava uma grande quantidade de tinta preta em pinceladas irregulares por toda a tela e depois espalhadas pelas bordas, criando um efeito arranhado. Os gradientes únicos de Rothko são encontrados em pequenas áreas das pinturas, geralmente no meio, quando os tons transitam de um para o outro.

Suas pinturas foram criadas para serem vivenciadas pessoalmente onde a atmosfera do espaço traduz as diversas emoções transmitidas pelas cores. Uma das séries mais famosas de Rothko é o Seagram’s Murals, exibido na Tate Modern em Londres. A série é composta por sete pinturas escuras e sombrias, usando uma paleta de pretos, vermelhos e marrons. Rothko’s deu as pinturas para a Tate Modern, o museu onde a maior coleção de obras de JMW Turner está instalado, e por conta de sua própria admiração por Turner, Rothko esperava que a série fosse exibida na galeria ao lado das obras de Turner.

 

 

A mudança de atmosfera dos gradientes escuros de Rothko para os céus de arte gradiente perfeitamente misturados de Turner é profundamente comovente. Um diálogo entre os dois é criado instantaneamente enquanto os visitantes caminham de uma galeria para a outra.

Dos retângulos coloridos de Rothko à arte digitalizada em gradiente usada na publicidade, a experimentação de cores é fundamental tanto para a criação de obras de arte quanto para a experiência do espectador.

Como cada cor faz você se sentir?

É possível descrever tais sentimentos?

Eles são desconfortáveis? Ou são calmantes?

Que tipo de emoção um gradiente de cor específico evoca?

Para mais informações sobre a coleção do Tate: https://www.tate.org.uk/

Sobre tempo: Dárida Rodrigues

Sobre tempo: Dárida Rodrigues

Para dar continuidade à nossa discussão sobre o tempo, conversamos com a artista Dárida Rodrigues, originalmente de São Paulo. A sua investigação materializa-se através de instalações audiovisuais, caminhadas com áudio, performances e site specifics como uma tentativa de investigar a arte relacional e a própria consciência humana. Dárida partilhou conosco a experiência de criar no período de isolamento, o papel da abundância do tempo na prática artística e a sua relação pessoal com o passagem do tempo.

Gostaria de começar falando sobre a intencionalidade por trás do seu trabalho em “alongar o tempo” para uma observação mais atenta dos nossos arredores e daquilo que vive dentro de nós também. De onde surgiu essa necessidade de unir a prática artística com métodos meditativos?

D: Bom, sinto que o tempo, ou melhor, o passar do tempo é das únicas constantes na nossa experiência, enquanto tudo muda. E a possibilidade de que o tempo “pare, se alongue ou voe” a partir da nossa percepção sobre cada experiência particular, sempre me interessou muito. Acho que esse fenômeno de mudança de percepção e sobretudo, a relação que se estabelece entre isso e os nossos estados mentais e emocionais, é também, das coisas que sempre me conectaram às práticas meditativas há um bom tempo. 

Então acho que essa abertura de um espaço interno onde a temporalidade se desdobra em outras configurações possíveis e que simultaneamente, permite com que se possa habitar mais integralmente o momento presente, que eu explorei muito através da meditação, de esvaziar nem que seja por alguns segundos a mente, atravessa também o meu trabalho acho que de maneira anterior à uma intencionalidade. É realmente uma brecha que me atrai enquanto investigação e que me interessa explorar nesta transposição de territórios entre arte e vida, talvez porque, pelo menos para mim, estes campos do meditativo, ou do espiritual, se quisermos, é também o campo onde arte opera. Vem se tornando naturalmente parte do processo integrar ou até subverter métodos meditativos ao experimentar criar relações entre subjetividade, tempo e espaço.

O seu último trabalho “Vice-Versa” explora essa ideia de movimento dos afetos que interligam o dentro e o fora, a recepção e expressão de informações e imagens… E o trabalho também acabou ilustrando a passagem do tempo por meio da observação do fluxo de pessoas na rua e as interações com a obra em si. O que você colheu da experiência em criar o trabalho “Vice-Versa”? 

D: Ainda estou processando essa colheita…porque o trabalho desvelou muitas camadas que têm sido interessantes de observar. Mas posso dizer que esse impulso de experimentar uma inversão de ponto de vista, aproveitando essa relação entre o dentro e o fora que o espaço da montra e da rua proporciona, através do recurso do video projetado, permite que muitas outras relações se estabeleçam e se confrontem, como por exemplo a do tempo com o espaço, no espelho invertido que não reflete diretamente o observador, criado através do video e que chama bastante a nossa atenção pela possibilidade de vivenciar 2 ou mais temporalidades em simultâneo, como a do que se passava dentro, a do que se passava fora, no momento presente e a do que se passava no que se via em ação na vídeo perfomance/espelho projetado, que ainda trazia outras velocidades, repetições e intervenções e que mediava essas diversas relações entre sujeitos plantas, transeuntes do presente e da imagem. Sinto que vale explorar esse espaço temporal relacional ainda mais.

O seu outro trabalho [Des]segredo propôs uma trajetória de um trajeto mapeado para percorrer a obra em um determinado espaço. Como que trabalhos site-specific manipulam a nossa percepção do tempo?

D: No processo de criação de [Des]segredo, que era também um projeto de mestrado, a audio-wall À Luz, desenvolvida para um percurso específico no edifico das Belas Artes de Lisboa, que é uma construção muito antiga, de materialidade histórica, onde se sente o peso não só material mas temporal também; foi interessante explorar a proposição de uma deriva interior (ou meditativa) através do deslocamento no espaço, como um processo de aproximação a um lugar comum de relação um para um, em torno da ideia de Segredo, que era proposta no final. 

A partir dessa paisagem sonora trazida pelas instruções por voz, vivenciada e recriada no presente ao se caminhar pelo espaço e também através das temporalidades subjetivas que acontecem no momento, para cada participante, pude observar também como uma viagem espaço/temporal feita especificamente para existir num espaço em âmbito artístico, pode não só influenciar (ou manipular) a nossa percepção do tempo mas também ser influenciada por ele. Isso porque sinto que as obras site-specific vinculam-se intrinsicamente ao espaço, ao mesmo tempo em que se abrem, através desta possibilidade da manifestação de um espaço temporal subvertido, para intervenções e transformações do mesmo e neste sentido, são muito interessantes nesta exploração do universo interior e relacional em diálogo com a temporalidade.

A obra [In]surgir, que foi criada durante a quarentena, é outro trabalho seu de imersão auditiva. Um dos nossos questionamentos dentro do tema tempo é investigar a forma que a falta ou abundância de tempo afeta os processos de criação. Como foi criar esse trabalho durante um período de isolamento?

D: Foi no mínimo um bom exercício de interrogação, tanto que no começo eu chamava a série [In]Surgir de “Exercícios para “Tocar o devir, Abraçar a dor e Mastigar o real”.

Eu, que havia decidido meio que transgredir no campo da arte, alguns métodos meditativos, ao propor o deslocamento, a distração, a uma poética que me implicava pessoalmente nos textos e nos áudios, de repente sentia que a vida pedia antes de mais nada, digerir, com uma inédita limitação de espaço e movimento, uma realidade distópica e incerta, onde estes métodos de meditação “convencionais”, apesar de muito úteis fisiologicamente, não pareciam fazer mais tanto sentido pra mim naquele momento. Era realmente uma necessidade integra-las com o processo de criação. Então passei a escrever essas audio instruções para trabalhar com as possibilidades de uma abstração meditativa e sensorial a partir desta condição de confinamento e da súbita pseudo-abundância de tempo e impossibilidade de movimento, com todas as emoções e interrogações que surgiam e insurgiam internamente.

É possível para artistas usufruírem da natureza esotérica do processo de criação num mundo extremamente acelerado como o que vivemos hoje?

D: Sim, difícil pensar o que não é possível em termos de arte. Mas pessoalmente, sinto que é essencial se deixar existir na vida e na arte da maneira mais integral que é possível para cada um, para não sermos totalmente engolidas ou capturadas pela vida extremante capitalizada e midiatizada, que caracteriza o “humanismo” instituído, falho, mas acelerado de hoje.  E acho que esse universo esotérico, espiritual ou transpessoal é bem mais amplo e presente na nossa experiência subjetiva, do que muitas vezes imaginamos ou intelectualizamos, especialmente porque operamos quase sempre dentro do pensamento hegêmonico ocidental, onde temos dificuldade em abrir espaço para o que não pode ser configurado por esses parâmetros e assim não nos conectamos com as possibilidades de intuir e criar rituais ou feitiços próprios naturais mesmo e não “sobrenaturais”, para explorar nosso universo interior e inventar outras realidades. O campo artístico é terreno bem fértil para essa exploração, na minha opinião. Muito do que encaramos como parte de uma natureza esotérica e que não se relaciona com o pensamento racional que conhecemos, pode ser prática comum para algumas outras comunidades e espécies, por exemplo. Se enxergarmos ou fizermos arte apenas a partir do ponto de vista da nossa (muitas vezes limitada) cultura vamos sempre deixar de fora experiências e vivências que talvez sejam fundamentais para existir e quem sabe, florescer de fato e politicamente no presente. Não vejo espaço/tempo mais receptivo para isso do que a arte.

Hilma af Klint

Hilma af Klint

Para iniciar nossa discussão em torno do tema TEMPO, hoje trazemos o trabalho da artista Hilma af Klint, que criou mais de 150 pinturas entre os anos de 1906 e 1915. Essas pinturas foram chamadas de “As Pinturas do Templo” e consistem principalmente em imagens abstratas e formas orgânicas inspiradas pela geometria da natureza. O trabalho de Klint apresenta um mundo além daquele que conhecemos; que transcende seu tempo atual e desafia a forma como observamos a realidade.

Klint imaginou um templo que abrigaria as pinturas e o descreveu em um de seus muitos diários como um “edifício redondo, onde os visitantes subiriam por uma escada em espiral em uma jornada espiritual”. A descrição de Hilma é extraordinária, pois ela descreve o Museu Solomon R. Guggenheim na cidade de Nova York, que seria construído apenas décadas depois e também seria o museu anfitrião de sua exposição individual “Pinturas para o Futuro” em 2018. Frank Lloyd Wright, o arquiteto do Guggenheim , criou um lugar não tradicional para a arte não- objetiva e tanto ele quanto Klint compartilhavam uma afinidade com as formas orgânicas e o simbolismo espiritual em torno da espiral. Tanto a visão arquitetônica de Wright quanto as pinturas de Klint foram uma ruptura com a tradição, oferecendo uma nova abordagem à expressão criativa.

O misticismo de Klint envolve muitos interesses em ocultismo, teosofia, espiritualismo e conceitos científicos. As pinturas para o templo serviram como um testamento para os espíritos superiores e o artista passou quase uma década trabalhando nelas. Suas pinturas abstratas mudaram o curso da história da arte e colocaram a questão: qual é o papel do tempo no processo esotérico de fazer arte?

Como artistas podem manipular a passagem do tempo por meio de suas práticas?

Tempo

Tempo

Qual é o papel da temporalidade no processo artístico?

O conceito de tempo tem estado no centro da expressão artística, desde os traços rápidos dos impressionistas até a observação do tempo em relação ao espaço de Bruce Nauman; o tempo serviu tanto como uma catapulta para o surgimento de novos pontos de vista quanto como tema para investigações mais profundas. A forma como os artistas entendem o tempo no contexto de sua prática sempre refletiu a dinâmica entre o artista e as demandas externas do mundo, seja por meio da contemplação ou da intervenção.

Como vivemos em um mundo em constante mudança, extremamente acelerado e nossas experiências sociais são mediadas por demandas frenéticas, como a falta ou abundância de tempo afeta a prática artística?

Alguns pontos principais a serem considerados:

A temporalidade no processo de produzir arte

Em primeiro lugar, é importante pensar sobre as maneiras pelas quais o tempo se inseriu na prática artística e como os artistas tentam retratar a natureza abstrata e invisível do tempo por meio das artes visuais. Em segundo lugar, o ato de contemplar uma obra de arte também é intercambiável, pois a própria obra muda ao longo do tempo, ganhando novas percepções e significados. Nagel e Wood (2010) argumentaram que as obras de arte sempre “habitam temporalidades plurais”, já que uma obra de arte é feita por alguém em um determinado momento, mas se refere a ideias ou eventos que muitas vezes precederam aquele momento, ou apontam para um futuro imaginado. (Serafini e Bancos).

A prática artística orientada pelo portfólio

Enquanto os artistas trabalham em condições cada vez mais limitadas de tempo, tendo que ser autossuficientes e produzir trabalhos para formatos e plataformas específicos (um portfólio, um site ou mídia social), sobra espaço para surpresas e experimentações lentas?

À medida que nossos ambientes digitais se tornam mais complexos, a necessidade de produzir trabalhos que sejam relevantes para os tempos atuais parece ser a única maneira “correta” de fazer arte. Mas se os tópicos relevantes mudam constantemente e é impossível acompanhar sua velocidade, sobra algum tempo para permitir que as ideias se desenvolvam organicamente? Como os artistas podem usufruir da natureza esotérica – e muitas vezes lenta – do processo criativo no mundo de hoje?

Escassez de tempo ao observar arte

A falta de tempo quando se trata de artes visuais gera um impacto não só no criador, mas também no espectador. Quanto ao espectador, ainda temos tempo suficiente para exercícios de contemplação? Qual é o tempo ideal para a experiência estética?

Fique ligado nas próximas semanas enquanto investigamos essas questões e outras mais relacionadas ao tempo e à arte.

Fontes:

Nagel, Alexander & Wood, Christopher (2010): Anachronic Renaissance, New York: Zone Books.

Serafini, Paula & Banks, Mark (2020): Living Precarious Lives, Time and Temporality in Visual Arts Careers