Exposição “Rapture”, por Ai Weiwei

por | Julho 6, 2021

Inclusiva.

Se tivesse de escolher apenas uma palavra para descrever a exposição Rapture de Ai Weiwei na Cordoaria Nacional, escolheria esta: inclusiva.

Sim, estamos todos chateados, estamos mentalmente e fisicamente doentes. Estamos exaustos, sem esperança, praticamente naufragados no meio de acontecimentos e notícias quotidianas que se agravaram mal, ou que vão muito mal, como diriam os portugueses.

Pertencimento, sentir-se incluída e “segura”, mesmo que ilusório, tornou-se um tipo de necessidade de ancoragem, a mais desejada.

Ao sair da exposição – em êxtase – me senti acolhida e incluída.

Para quem já viu, pode parecer uma sensação confusa ou estranha, afinal, quase todas as mazelas pelas quais passamos estão presentes de forma clara e explícita ali. Vídeos de trajetórias trágicas, refugiados pelo mundo, cenas da repressão chinesa, deslizamentos de terra e mortes de crianças, guerras, catástrofes ambientais, pandemias, etc.

Tudo o que nos assombra está à mostra, escancarado. Como o imenso rolo de papel higiênico de mármore, um símbolo bizarro de nosso instinto egoísta de sobrevivência.

Essas representações deveriam me causar desconforto, mas me fizeram sentir acolhida. Todos os meus fantasmas não são mais pessoais. Vivemos em um pesadelo coletivo.

E a única saída é através de um senso de comunidade.

As peças grandes e maciças, elaboradas a muitas mãos, reforçam a ideia de que a única chance de sucesso virá do trabalho em grupo. Como uma equipe esportiva em um barco de refugiados, nossa força mora no coletivo. A liberdade só existe realmente quando todos são livres. Não há outra saída.

Além de mostrar e retratar nossas mazelas, Weiwei nos convida a agir e a refletir.

 

Arte e vida são indissociáveis, por mais que os críticos ao longo da história afirmem o contrário. Viver é um ato político e, portanto, a arte é sempre política.

Não há outro caminho.

Inclusão. Coletividade. Liberdade.

Sim, tudo é político!

Que sorte temos de viver em um mundo onde Ai Weiwei existe.

A exposição estará aberta até 28 de novembro de 2021.